Eugênio Nogueira, que se lembra da angústia da internação longe da família, vai celebrar com os filhos Vinícius e Caio (D) e a mulher, Nélia: "Mudei para melhor" Foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Gustavo Werneck, Estado de Minas
Recuperados, duplamente vacinados, imunizados com apenas uma dose e cheios de alegria para receber, neste domingo, o mais poderoso dos antídotos contra o sofrimento provocado pela pandemia: o abraço carinhoso dos filhos. No segundo Dia dos Pais em tempos de COVID-19, mineiros falam da tranquilidade de celebrar a data, desta vez, com mais segurança, sem abdicar, claro, dos cuidados necessários para evitar a proliferação do vírus. No churrasco em família, a máscara estará presente; ao lado da cervejinha, o álcool em gel não vai faltar; e à mesa para curtir a feijoada, o sagrado distanciamento será mantido, pois, afinal, fala mais alto a voz do coração para desejar saúde, felicidade e esperança aos papais.
Para o supervisor de vigilância Héberson Damico, de 48 anos, residente em Belo Horizonte, a comemoração começou mais cedo. Na manhã de quinta-feira, na companhia da mulher Patrícia e do filho Edgar, de 10, ele tomou a segunda dose do imunizante da Pfizer. “Passei 40 dias hospitalizado, dos quais 18 intubado, perdi um irmão de 55 anos, de COVID, não foi fácil, não. Mas vamos saborear uma feijoada na casa dos meus pais, que são idosos e foram vacinados “, diz Héberson.
O calvário não foi menor para o comerciante Eugênio Carlos Nogueira, conhecido como Nica e residente em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte ( RMBH). Ele também ficou internado com COVID-19. “Um dos melhores momentos da minha vida foi ver meus filhos, Vinícius, de 27, e Caio, de 25, esperando na porta do hospital para me levar de volta para casa”, emociona-se o dono de um depósito de material de construção, ao lado dos dois jovens e da mulher, Nélia Maria Marques Nogueira.
Na mesma cidade, a família de Anderson Eduardo dos Santos, de 38, que trabalha em almoxarifado, quer festejar a vida. “Tomei a primeira dose da vacina, então agora fico um pouco mais à vontade. Só não podemos descuidar. Ando de ônibus e sei que ali mora um grande perigo de contaminação por estarem sempre lotados”, afirma Anderson. Os filhos Anna Sara Karolina Silva Costa, de 15, e Eduardo Henrique Silva dos Santos, de 9, querem paparicar bastante o papai, mas, atenta, a mãe, Soraia Aparecida da Silva, de 42, que já tomou as duas doses por trabalhar na área de educação, ressalta que tudo deve ser na medida certa. “Nada de relaxar “, avisa com doçura.
O sorriso confiante de Eugênio Carlos Nogueira, popularmente conhecido como Nica, morador de Santa Luzia, na RMBH, mostra que o pior já passou e que as luzes da esperança vieram para ficar e clarear cada vez mais seus caminhos e da família. “Imagina que fui internado com COVID num sábado, véspera do último Dia das Mães. Fiquei oito dias no Hospital Risoleta Neves, felizmente sem precisar de intubação. Não pode haver nada pior do que estar ali sozinho, sem a mulher e os filhos. A auto-estima vai lá para baixo…é muito sofrido”, conta o comerciante.
O alívio só voltou ao sair e ver, na porta do hospital, os filhos Caio César Marques Nogueira, engenheiro civil, e Vinícius Marques Nogueira, administrador, que trabalham com o pai no depósito de material de construção. Os filhos se emocionam diante das palavras do pai. “Foi um período de muita angústia, a gente fica meio sem ter o que fazer”, observa Caio, enquanto para Vinícius, também acometido pela doença, não há maior tristeza do que ver alguém que você gosta sofrendo assim. Num grupo de amigos, tendo à frente o primo Guilherme César, os dois participaram de uma caminhada de 20 quilômetros para pagar uma promessa pela recuperação do pai, entre as igrejas Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Kennedy, e São Francisco, na localidade de Taquaraçu de Baixo, em Santa Luzia.
Muito católica, a família de Nica tem, na sala, um belo quadro de José, Maria e Jesus, além de imagens de Santa Luzia e Nossa Senhora Aparecida. É nesse ambiente, com o devido distanciamento, que eles posam para a foto desta reportagem. Mas num instante de afeto filial, Caio e Vinícius pousam as mãos nos ombros do pai, parecendo anunciar, em silêncio: Pai, estamos aqui.
Certo de que as boas energias são fundamentais para a cura, Eugênio que surpreendeu ao sair do hospital: “Não sabia que tinha tantos amigos, muita gente rezando por mim. Confesso que, no hospital, tive muito medo, mas aprendi também que devemos valorizar mais a família e as amizades, e reduzir a velocidade na qual vivemos. Para quê tanta pressa?”, pergunta. As lições são muitas, e vão desde a calma para admirar o nascer do Sol como encontrar a paz em situações simples. “Acho que mudei um pouco…para melhor “, conclui, certo de que hábitos saudáveis ao longo da vida, como jogar futebol e não fumar, ajudam bastante.
VIDA NOVA – Na manhã de quinta-feira, no Centro Municipal de Saúde Cidade Ozanan, na Região Nordeste de BH, o supervisor de vigilância Héberson Damico, de 48 anos, recebeu a segunda dose do imunizante contra a COVID-19. Feliz da vida, estava na companhia do filho Edgar Mesquita Damico, de 10, e da mulher Patrícia Mesquita de Araújo – o enteado Igor Mesquita Barbosa Costa, de 29, terá que esperar sua vez.
A injeção fundamental para defender contra a doença que assola o mundo trouxe alívio, mas também as lembranças do período que aterrorizou o vigilante e foram superados. Em 17 de fevereiro, ele passou mal e caiu na nua, sendo socorrido e levado para o hospital da Unimed. “Já estava com 50% do pulmão tomado pelo coronavírus. Dois dias depois, fui intubado. Vi gente morrendo, fiquei com medo de que pudesse ser mais um, mas fiquei bom. Curioso é que não me lembro de nada que passei no hospital”, conta Héberson, que ficou mais 11 dias na UTI e depois 20 dias em reabilitação no Hospital Paulo de Tarso, no Bairro São Francisco, na capital.
Considerando o período ao qual sobreviveu como “uma loucura total”, o mineiro natural de Itabira, na Região Central do estado, e residente no Bairro Nova Floresta, na Região Nordeste de BH, quer ver o brilho da esperança no lugar do breu das incertezas e das dores. “Nesse período, perdi meu irmão, de 55 anos, que morava em Araxá (Região do Alto Paranaíba). Éramos 10 filhos, hoje somos nove. Minha mãe sofreu muito.” Neste domingo, é correr para abraço, embora sem aglomerar e sempre esperto quanto aos protocolos sanitários.
CHURRASCO OU HAMBÚRGUER? A pergunta ainda estava sem resposta na noite de quinta-feira, mas, independentemente do cardápio, já dava na água na boca da adolescente Anna Sara Karolina Silva Costa, de 15, e do seu irmão Eduardo Henrique Silva dos Santos, de 9. “Ele é o melhor pai do mundo, merece um abração”, determinou o menino abrindo os braços. “Merece mesmo”, concordou a adolescente, que deseja um domingo bem animado. E com razão: o aniversário de 15 anos dela foi no auge da pandemia, o que atrapalhou os planos da família de festejar com amigos e parentes.
Com a primeira dose da vacina, Anderson se sente mais “à vontade” como diz, e Soraia, emocionada pela proximidade da data, chegava às lágrimas. “Tanto eu como meu marido fomos criados sem pai. Queremos, portanto, que seja um domingo especial para nossa família.”
Sobre o prato escolhido, Soraia deixava a resposta no ar, mas tudo sinalizando para a carne na brasa na hora do almoço. Mas o sorriso do papai mostrava que, de todo jeito, o garotão não ficaria na mão: hambúrguer garantido para o lanche da tarde. O domingo vai longe!
Leave a Comment
Your email address will not be published. Required fields are marked with *
Leave a Comment
Your email address will not be published. Required fields are marked with *