Em 20 dias, cerca de 50 mil pessoas participam na cidade dos festejos em louvor à protetora da visão
Gustavo Werneck
Estado de Minas
A peregrinação a Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (13), enche as ruas da tricentenária cidade de devotos e daqueles em busca de proteção para olhos ou de cura para doenças que afetam a visão. A estimativa é que, no total, cerca de 50 mil pessoas participem do jubileu da padroeira do município iniciado em 29 de novembro e com encerramento encerram no domingo (17).
No inicio desta noite, às 18h30, diante do Santuário Arquidiocesano de Santa Luzia, na Praça da Matriz, a imagem surgiu no andor enfeitado com 56 dúzias de rosas nos tons champagne e rosa, para cumprir uma tradição: percorrer, no andor, as ruas do Centro Histórico, e fortalecer a fé. Nas ruas, as sacadas dos casarões estão enfeitadas com bandeiras, flores, ramos e toalhas bordadas. À passagem da imagem, há muitos aplausos, gritos de “Viva Santa Luzia!”, chuva de papel picado e emoção.
“Santa Luzia grita pela paz, pela vida”, diz o reitor do Santuário Arquidiocesano, padre Felipe Lemos de Queirós, que está à frente do Jubileu de Santa Luzia. “A paz vem de Jesus, nosso único caminho em tempos tão conturbados no mundo”, acrescenta o reitor, que, desde 29 de novembro, comanda, com sua equipe, a programação com missas, peregrinações, trezena e muitas atividades na paróquia. Os festejos contam com uma infraestrutura montada na Rua Direita, que inclui tendas para alimentação (espaço gourmet, na frente do santuário, e de eventos, ao lado da Igreja do Rosário) shows e confraternização, além das tradicionais barraquinhas. A decoração do andor ficou a cargo do seminarista Douglas Silva e equipe.
Segundo padre Felipe, a imagem que sai na procissão não é a original, do século 18, presente no altar do templo barroco. “Foi feita uma réplica, idêntica mesmo, moldada na peça do altar. Seguimos orientação dos órgãos de patrimônio, pois, no caso de chuva forte, não há riscos para a peça sacra”. O Centro Histórico de Santa Luzia é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e pelo município.
Antes da saída da procissão, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Nivaldo Ferreira, presidiu missa campal. Na celebração, ele deu a benção aos que levantaram óculos, carteiras de trabalho, documentos e chaves de residências.
DEMONSTRAÇÃO DE FÉ São muitas graças e bênçãos alcançadas por intercessão de Santa Luzia, na palavra dos devotos. “Venho aqui há 15 anos. Meu marido, Waltecy, sofreu um acidente que comprometeu a visão. Rezei, então, pedindo a Santa Luzia que ele ficasse bem. E graças a Deus, ficou”, conta a professora Ednéia da Luz Reis de Jesus, moradora de Igarapé (RMBH). “Quando era criança, ouvi a história de Santa Luzia e me identifiquei muito com sua devoção a Deus”, destacou a professora, lembrando, com bom humor, que já traz Luz e Jesus no nome.
Vinda de Lagoa Santa (RMBH), Delza Matos, salgadeira, afirmou que todos os anos vai ao município vizinho para agradecer pelas bênçãos alcançadas. Depois de beijar a fita da imagem da padroeira da cidade, ela revelou que fez promessa para que sua irmã, Daise Cristina, ficasse curada de um problema nos olhos. “Deu certo.”
Para os moradores, é tempo de celebrar a padroeira e agradecer pelas graças obtidas. “Estamos sempre pedindo pela nossa maravilhosa cidade. E que Santa Luzia sempre nos abençoe”, ressaltou o policial penal Anísio Gomes dos Santos.
Todos os descendentes de José Ascensão Pires, de 90 anos, incluindo ele, acompanharam o cortejo descalços. “Fizemos uma promessa para ele ficar bom dos olhos, pois teve um sangramento”, contou o genro Antônio Pires. “Tenho muita fé”, disse José, carregando a imagem da santa. Perto dali, outra geração de devotos. ” Trouxe os dois para conhecer a festa da nossa padroeira”, contou Ana Marina Silva Teixeira de Salles, com os filhos Lucas, de dois anos, e Gabriel, de dois meses.
A estudante Maria Eduarda Albino Moura, de 13 anos, foi à frente da procissão vestida de Santa Luzia, levando os olhos na mão esquerda e a palma na direita. “Sou daqui e tenho muita fé desde criança. É muita alegria.”
MENSAGEM O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, enviou uma mensagem à população: “A festa de Santa Luzia, neste tempo do Advento, é uma preciosidade da fé cristã católica. Conhecer mais sobre a vida de Santa Luzia é oportunidade para amadurecer a coragem de ser discípulo e discípula de Jesus, testemunhando os valores do evangelho, o que exige coragem. Muitas situações deste mundo estão na contramão do evangelho, conduzindo o ser humano para o egoísmo, a indiferença, a intolerância. Inspirar-se na vida de Santa Luzia é, portanto, antídoto para esses e tantos outros males.”
Padre Felipe Lemos cantando o Hino à Santa Luzia:
Dom Walmor disse ainda que Santa Luzia testemunhou a fé de maneira inabalável, recusou-se a negar Jesus mesmo diante do martírio. “A festa da padroeira, congregando tantos peregrinos, qualifica nosso olhar para enxergarmos o amor misericordioso de Deus. Que ela possa contribuir ainda mais para que todos se aproximem do amor de Deus.”
Este ano, o Jubileu de Santa Luzia tem como presidentes Ailton Silva e Kátia Brandina da Silva e Wellington Sacramento Júnior e Isabella Aparecida Ribeiro.
PROGRAMAÇÃO (de 15 a 17/12)
No Santuário de Santa Luzia, no Centro Histórico
– Sexta-feira (15/12)
Às 19h30, abertura da novena de Natal
– Sábado (16)
15h – Missa com enfermos e idosos
19h30 – Missa com luzienses ausentes
– Domingo (17)
7h e 10h – Missa dos Romeiros
10h (na Igreja do Rosário) – Missa da gratidão, com a presença de todos os que ajudaram no jubileu
12h – Leilão de animais, no espaço de eventos da Igreja do Rosário
15h – Missa dos Romeiros
19h30 – Missa de encerramento, com o Canto do “Te Deum”. Após a celebração, haverá a descida da Bandeira de Santa Luzia.
HISTÓRIA O nome de Santa Luzia vem do latim, significa “portadora da luz”, e, para os fiéis católicos, ela é a protetora dos olhos. Nascida em Siracusa, na Itália, no ano de 304, Santa Luzia pertencia a uma família rica, da qual recebeu formação cristã, a ponto de ela ter feito um voto de viver a virgindade perpétua. Porém, com a morte do pai, Luzia soube que sua mãe queria vê-la casada com um jovem de distinta família. O rapaz era pagão.
Ao pedir um período para analisar o casamento e tendo a mãe gravemente enferma, Santa Luzia propôs à mãe que fossem em romaria ao túmulo da mártir Santa Águeda, e que a cura da grave doença seria a confirmação do “não” para o casamento. Reza a tradição que, milagrosamente, foi o que ocorreu com a chegada das peregrinas e, assim, Santa Luzia voltou para Siracusa com a certeza da vontade de Deus quanto à virgindade e quanto aos sofrimentos pelos quais passaria, a exemplo Santa Águeda.
Santa Luzia vendeu tudo o que tinha, deu aos pobres, e logo foi acusada pelo jovem que a queria como esposa. Não querendo oferecer sacrifício aos falsos deuses nem quebrar seu voto, ela teve que enfrentar as autoridades perseguidoras. Conta-se que antes de sua morte teriam arrancado seus olhos. Assim, Santa Luzia é reconhecida pela vida que levou Jesus até as últimas consequências.
O prefeito da cidade, Pascásio, quis levar à desonra a virgem cristã, mas não conseguiu. Nem as chamas do fogo, às quais foi exposta, até que por fim a espada acabou com sua vida.
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