A medalha de prata conquistada por Daniel Rodrigues ao lado de Carlos Jordan no Parapan de Toronto simbolizou a confirmação do acerto de uma difícil decisão tomada pelo atleta em setembro de 2013, numa cirurgia para amputação da perna direita. Na disputa contra a Argentina na final de duplas, o Brasil ficou com a prata. Foram dois sets a zero, parciais de 6/2 e 6/2, ao lado do experiente Carlos “Jordan”. Na dupla feminina, Natália Mayara e Rejane Cândida venceram a Colômbia por 2 sets a 1 (6/2, 2/6 e 10/8) e levaram o ouro.
“O resultado está aí. Dois anos depois ganho a minha primeira medalha em Jogos Parapan-americanos. Tenho nove anos de tênis, joguei em Guadalajara e perdi na primeira rodada. Hoje, para mim, essa prata tem gosto especial”, afirma Rodrigues, eleito o melhor do ano no Prêmio Brasil Paralímpico em 2014.
Daniel nasceu com má formação na perna direita – 20cm menor que a esquerda, e decidiu amputá-la em 2013 em função de problemas decorrentes de uma das diversas cirurgias que fez para tentar reverter a o quadro. “Fiz várias operações tentando alongar a perna, mas não tive sucesso. Inclusive deu um erro médico em uma delas e perdi a movimentação do joelho. Fiquei com a perna dura”, conta. Com isso, o atleta, que já usava muletas, passou a ter ainda mais dificuldades para caminhar.
“Eu já estava no tênis em cadeira de rodas. Deixava as muletas e ia para a quadra com a perna esticada. Quando comecei a viajar para fora do país para competir, comecei a ver pessoas andando com próteses e elas me incentivavam a amputar para ser mais independente”, relata o tenista. “Deixei os anos passarem até conseguir uma vaga no Hospital Sarah, em Brasília. Na época, tentaram uma órtese para que eu andasse com uma muleta só e tivesse um braço independente. Não funcionou”, conta Daniel, convencido pelo médico do hospital a colocar o nome na lista de espera para a cirurgia.
Em setembro de 2013, o atleta viajou aos Estados Unidos para um torneio. Na volta, descobriu em uma consulta de rotina que a cirurgia seria três dias depois. “Eu falei: ‘O quê? Como assim? Mas vamos lá. Estou pronto. Estou preparado’”, relata.
Hoje, não tem dúvidas sobre o acerto. “Se pudesse teria tomado a decisão quando era criança e teria evitado todas as dores do caminho. Em 19 de setembro fiz a cirurgia. Em novembro comecei a andar com a prótese”. Em seguida, veio a readaptação às quadras. “Foi estranho porque a cadeira era adaptada, feita sob medida para a minha perna. Com a nova, tive de me readaptar”, explica.
Da peteca ao pódio
Daniel sempre se dedicou aos esportes. Ainda pequeno jogou futebol, futsal, handebol e peteca com os amigos em Belo Horizonte. “Comecei jogando com pessoas sem deficiência e nunca me trataram diferente. Eu era ligeiro. Perto de casa jogava muito com os amigos. Aí entrei num torneio no colégio aos 19 anos. Dominei na peteca. Aí meu professor na época chamou todo mundo pra ver eu jogando pois ele ficou surpreso e perguntava: ‘como alguém joga peteca com uma muleta?’”, conta Rodrigues, que foi ajudado pelo professor, que o indicou à ONG Tênis Para Todos, onde deu inicio à carreira.
“Pensei que era algo de gente rica e que não ia conseguir. É um esporte caro. A raquete, o material, a cadeira. Até hoje não consigo bancar tudo o que gasto e preciso de apoio, como a Bolsa-Atleta, que é um ganho extra. É importante porque dedico minha vida ao tênis”, conta o atleta, que no início teve de se ajustar à cadeira de rodas.
“Tocar a cadeira, acertar a bola e girar ao mesmo tempo era complicado”, lembra Daniel, que pegava três ônibus para treinar uma vez por semana. “Quando joguei o primeiro torneio, tomei gosto e comecei a treinar duas vezes”, afirma o atleta, que hoje não precisa mais se desdobrar em tantas conduções e pratica todos os dias, em dois turnos .
A modalidade
O tênis em cadeira de rodas tem praticamente as mesmas regras do tênis convencional, com exceção da possibilidade de a bola quicar até duas vezes na quadra antes da rebatida. As cadeiras utilizadas são esportivas, com rodas adaptadas para melhor equilíbrio e mobilidade. Não há diferença em relação às raquetes e às bolas. Para disputar, o único requisito é que o atleta tenha sido medicamente diagnosticado com deficiência relacionada à locomoção. Para isso, é necessário ter total ou substancial perda funcional de pelo menos uma das duas pernas.
Texto publicado no site brasil2016.gov.br, em 13 de agosto de 2015.
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