Beto Mateus, pesquisador – Luzias
O jornal O Pharol, de Juiz de Fora, fez um relato minucioso das cerimônias da sexta-feira da Paixão em Santa Luzia em 1907. A edição do dia 11 de abril daquele ano descreveu detalhes da procissão do enterro, identificando alguns de seus protagonistas como músicos e organizadores da tradicional cerimônia.
Leia alguns trechos:
(…) a comemoração da Paixão em Rio das Velhas esteve na altura dos sentimentos religiosos deste bom povo. Os séculos passam, as sociedades sofrem transformações, mas a nossa crença, a fé viva no coração dos povos e nosso culto pelas cousas do Divino Mestre, dia a dia, aumentam. Sexta-feira da Paixão, dia melancólico e triste, fez afluir a esta cidade uma verdadeira romaria de fiéis, que vinham acompanhar a tocante procissão do Enterro.
Logo às primeiras horas do dia, era enorme o movimento nas ruas, escuras pelas toilettes das senhoras, senhoritas e cavalheiros, dando a cidade um aspecto de luto!
A Igreja Matriz, onde o Senhor Morto estava em exposição, era pequena para a massa de povo em visita ao Sepulcro.
À noitinha, o bulício fervoroso dos crentes aumentou e quando o caixão do Senhor Morto saía a porta da Matriz, dificilmente se podia passar nas ruas. Desfilou o grandioso préstito, formando duas aulas, profusamente iluminadas e num silêncio admirável.
A voz sonora da simpática Veronica, magistralmente representada pela gentil mocinha Maria Eugenia Dolabella, veio despertar a atenção de todos, unanimes nos elogios ao cabal desempenho daquele difícil papel. Às últimas notas do Anjo canto, respondiam as três Maria Ben pelas gentis senhoritas Luizita Tibúrcio, Maria Nicolina e Mariquita Tibúrcio. O coro, dirigido pelo maestro Eduardo Castro e muito bem organizado pelas senhoritas Aramita Vianna, Mariquita Castro, Nhazinha Castro Silva e mais alguns amadores do Rio das Velhas, deu grande realce às solenidades da Semana Santa. Além deste coro, ouvia-se de espaço a espaço a banda de música dirigida pelo sr. Godofredo Barbosa executando as mais tocantes marchas, próprias daquele dia.
Santa Luzia é uma cidade extensa e, tal foi a extraordinária concorrência ao enterro que, o guião descendo a rua principal, passava à rua fronteira e o esquife do Senhor Morto ainda descia as escadarias da Matriz.
A procissão com esta extraordinária concorrência, correu sem o menor incidente e a comissão dos festejos composta dos srs. Lisboa Machado, José Tibúrcio, Francisco Lucindo, Antonio Martins e José Silveira, merece francos parabéns pela boa ordem e esplendor das solenidades.
O pálio do Senhor Morto era carregado por pessoas gradas do lugar bem como o rico andor de N. Senhora das Dores; em seguida vinham as irmandades da Ordem Terceira de S. Francisco, Sacramento, Dores, Rosário, cercadas por uma multidão de virgens e anjos lindamente vestidos.
Presidia a toda a solenidade o padre Francisco Ornellas e, ao recolher a procissão à meia noite pregou eloquentemente o sermão de Lágrimas o inteligente padre Augusto José do Espírito Santo. Belíssima, extraordinária a Semana Santa, este ano, em Santa Luzia.
*Ortografia atualizada
Stockler Dolabella, é o autor dessa fotografia(Associação Cultural Comunitária e Santa Luzia), publicada na imprensa mineira em 1911
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