Poucos prefeitos trataram tão mal Santa Luzia quanto esse que, felizmente, está concluindo seu mandato . Neste final dos quatro anos em que esteve à frente da Prefeitura ele tem sido particularmente cruel com a população da cidade. A área da saúde reflete bem essa insensabilidade e descaso com os moradores. Há queixas de que falta até papel higiênico nos postos de saúde. Agora, vem a denúncia que o centenário Hospital São João de Deus está sem receber um tostão da Prefeitura há quatro meses. A divida chega a mais de R$ 5,8 milhões, o que está trazendo enormes dificuldades financeiras para o Hospital.
Estado de Minas
O Hospital São João de Deus, em Santa Luzia, na Grande BH, denuncia atrasos nos repasses de verbas pela prefeitura do município, que já somam mais de R$ 5,8 milhões em quatro meses. A unidade, que é referência em saúde na região, está à beira do colapso, com dificuldades para honrar compromissos como o pagamento de férias, 13º salário e fornecedores.
A dívida acumulada, que inclui R$ 820 mil com fornecedores e R$ 2,1 milhões em vencimentos imediatos, reflete uma irregularidade nos repasses que, segundo a direção, ocorre desde o ano passado. O hospital, que é referência também para cidades vizinhas, já enfrenta dificuldades para honrar compromissos básicos, como o pagamento de férias e 13º salário dos seus 290 funcionários.
“Estamos sob o risco iminente de suspensões de alguns serviços essenciais prestados por fornecedores, como fornecimento de energia elétrica, abastecimento de água e rouparia”, alerta ainda a instituição em nota oficial.
Desde julho, o hospital não recebe qualquer valor da prefeitura. Antes disso, os repasses vinham sendo feitos de forma reduzida, apenas R$ 500 mil mensais — muito aquém dos cerca de R$ 2 milhões previstos no contrato e insuficientes para cobrir os custos da unidade, que atende cerca de 60 pacientes diariamente. “Até então, nós tínhamos um dinheiro guardado e conseguimos sobreviver. Mas agora chegamos a uma situação crítica”, relata a diretora geral da instituição, Ana da Piedade Fernandes Guimarães, ao Estado de Minas.
Apesar do cenário preocupante, Ana Guimarães afirma que o fechamento do hospital ainda não está em pauta. “O fechamento não pode ser uma decisão apenas nossa. Estamos tentando construir alternativas, para ver o que a prefeitura pode fazer de contrapartida para evitar o fechamento. O primeiro passo foi o comunicado dessa situação, enviado também aos órgãos competentes, que chegou ao limite”, explica. A instituição também acionou o Ministério Público.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Santa Luzia para obter um posicionamento, mas não recebeu retorno até o fechamento da matéria. O espaço permanece disponível para manifestação.
Fundado em 1990 e reinaugurado em 2020, o Hospital São João de Deus atende clínica geral, cirurgias eletivas, maternidade e internações clínicas e cirúrgicas, além de funcionar como leito retaguarda, ou seja, receber transferências de outras unidades da região. Além de atender os moradores de Santa Luzia, o hospital é referência para cidades como Taquaraçu, Jabuticabas, Ribeirão das Neves, Lagoa Santa, Vespasiano, Contagem, Ibirité, Barão de Cocais e parte de Belo Horizonte.
A unidade realiza uma média de 220 a 250 cirurgias mensais, além de 4.000 atendimentos em exames de imagem, endoscopias e colonoscopias. Cerca de 60 a 70 pessoas permanecem internadas diariamente. “Nós somos uma referência para a microrregião de Santa Luzia. Recebemos pacientes de várias cidades. O hospital é um pilar para milhares de famílias que dependem dos nossos serviços para tratamentos, cirurgias e acolhimento”, afirma Ana Guimarães.
Entre os usuários da unidade, o impacto do possível colapso financeiro é sentido como uma ameaça real. Para a dona de casa, Natalina Jesus da Silva, de 58 anos, que fez o pré-natal das duas filhas no local e esteve no hospital na última sexta-feira (29/11) para acompanhar o irmão em uma cirurgia, a unidade hospitalar é muito importante para os moradores do município.
“Esse hospital não pode fechar. Ele é histórico para a cidade e ótimo em infraestrutura. Minha filha mais velha, de 33 anos, teve um filho lá. A equipe atende muito bem e o espaço é limpinho, organizado. Meu irmão que operou nesta sexta, chegou e saiu no mesmo dia. Então é um atendimento muito efetivo”, reflete.
O luziense, Ryan Henrique Sousa, de 22 anos, já utilizou os serviços do hospital para fazer uma tomografia e conta que não sabia que o hospital estava com dificuldades financeiras. Para o jovem, a notícia da crise é alarmante. “Quando precisei usar o espaço do hospital achei muito bom. Ele é o mais especializado, faz cirurgias, internação. Perder esses serviços seria muito ruim, já que ele é o melhor da cidade”, desabafa.
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